Presidente da Alerj preso, Rodrigo Bacellar tem influência até na Segurança Pública; entenda

Sua atuação tem especial atenção ao programa Segurança Presente, uma das ações mais abrangentes de enfrentamento à violência no estado


Por Felipe Grinberg | O Globo — Rio de Janeiro

O poder do deputado Rodrigo Bacellar (União) — preso anteontem por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF) — vai muito além da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), onde foi eleito presidente com inéditos 100% dos votos. Alcança o alto escalão do governo Cláudio Castro (PL), a ponto de influenciar a escolha de secretários, através de indicações diretas ou chancelas a nomes sugeridos por outros políticos fluminenses. Sua principal área de atuação é a Segurança Pública, com especial atenção ao programa Segurança Presente, uma das ações mais abrangentes de enfrentamento à violência no estado. Agora, Bacellar é acusado de vazar a operação que levaria à prisão o então deputado Thiego Raimundo dos Santos Silva, o TH Jóias, investigado por ligação com o Comando Vermelho.

O deputado estadual Rodrigo Bacellar — Foto: Divulgação Alerj / Foto de Thiago Lontra

Em 2023, em meio a dificuldades financeiras do governo do Rio, Bacellar demonstrou sua força política. Na época, o Palácio Guanabara pediu autorização à Alerj para usar R$ 4,5 bilhões de fundos estaduais, para não atrasar a folha de pagamento e fechar o ano sem déficit. Na mesa de negociação, o presidente do Legislativo foi claro: o projeto só seria aprovado se houvesse troca de comando na Polícia Civil.

Votação a jato

O governo fluminense cedeu. Há menos de duas semanas no cargo, José Renato Torres soube pela imprensa que seria demitido e pediu exoneração. Foi substituído pelo delegado Marcus Amim, que era próximo do ex-deputado estadual Márcio Canella (União) e teve o nome defendido por Bacellar. No entanto, havia uma pedra no caminho: a Lei Orgânica da Polícia Civil impedia que o chefe da corporação tivesse menos de 15 anos como delegado, como era o caso do policial civil indicado.

Castro então enviou às pressas à Alerj um projeto de lei que mudava a regra, para permitir a nomeação de Amim. Com tramitação célere, em dois dias a mudança foi aprovada na Alerj — com apenas dez votos contrários — e sancionada por Castro. Na época, Bacellar negou ter interferido no processo:

— Eu não entendo nada de Polícia Civil, muito menos de Polícia Militar do Estado do Rio, mas entendo de gente, entendo do povo. Dessa vez, eu considero que ele (Cláudio Castro) fez uma das escolhas mais acertadas. Ele me comunicou que faria uma escolha e dei a ele um conselho pela mudança — disse Bacellar, na época.

Amin ficou quase um ano no cargo e, em 3 de setembro do ano passado, foi substituído pelo delegado Felipe Curi, atual secretário de Polícia Civil. Treze dias depois, foi nomeado por Bacellar para a Superintendência Militar da Alerj, onde está até hoje.

A influência de Bacellar na Polícia Civil não teria cessado, apesar de ter reduzido com a troca do comando. Na corporação, é atribuído ao presidente da Alerj indicações de delegados nas regiões Norte e Noroeste do estado, seu reduto eleitoral.

Eleito em 2018 deputado estadual pela primeira vez, Bacellar chegou três anos depois ao primeiro escalão do governo Cláudio Castro assumindo a Secretaria de Governo, responsável pela gestão do Segurança Presente — que hoje tem 58 bases espalhadas em todo estado. Saiu em 2022 para concorrer novamente à Alerj, mas manteve seu poder no programa de reforço de policiamento. Nos bastidores, políticos afirmam que Bacellar e o presidente nacional do União Brasil, Antônio Rueda, indicaram André Moura, o atual secretário de Governo. Ao presidente da Alerj é creditada a nomeação para diversos cargos dentro do programa, que tem policiais militares atuando nos cargos de comando.

Adversários dizem que, mesmo fora da Secretaria de Governo há três anos, Bacellar pretendia usar o programa como trampolim político. Pré-candidato ao governo do Rio, ele sabe que a Segurança Pública será o principal tema a ser discutido durante a corrida eleitoral de 2026.

No primeiro semestre deste ano, quando o deputado ainda era o principal candidato de Cláudio Castro à sucessão, o governo planejou uma expansão do Segurança Presente, e Bacellar seria protagonista nas inaugurações para conseguir ligar sua imagem ao programa.

Nessa época, questionado sobre o poder de Bacellar nas decisões do governo, o Palácio Guanabara chegou a dizer oficialmente que o presidente da Alerj era “o nome escolhido pelo grupo político para a sucessão” e, portanto, seria “natural que faça parte das tomadas de decisão do governo”. Nas inserções de rádio e TV do União Brasil nos últimos meses, Bacellar também destacou os números do Segurança Presente e se apresentava como principal responsável pelo aumento de bases pelas cidades.

Pauta na Alerj

Desde a briga com o governador Cláudio Castro, em julho, o presidente da Alerj deixou de ir a inaugurações e agendas ligadas à Segurança. Ainda nutrindo o desejo de ser candidato, passou a usar a ferramentas de parlamentar para manter sua imagem vinculada ao programa. Em agosto, Castro anunciou que enviaria à Alerj algumas propostas voltadas ao combate à violência. Horas depois, Bacellar se antecipou ao governador e apresentou um projeto de lei batizado de “Pacote de Enfrentamento ao Crime (PEC)” no hiato entre o anúncio e envio dos textos pelo Palácio Guanabara. A manobra fez com que pontos anunciados antes pelo governador fossem aprovado no projeto com a “marca Bacellar”.

Para não esticar a corda da crise, Castro não retaliou e manteve no governo nomes indicados por Bacellar, apesar do distanciamento entre os dois. Entre eles está o de Roberta Barreto, secretária de Educação; e Pedro Henrique de Oliveira Ramos, presidente do Departamento de Estradas de Rodagem (DER), além de nomeações na Companhia de Desenvolvimento Industrial do Estado do Rio (Codin) e na Agência Estadual de Fomento (AgeRio).

Procurado, o Governo do Rio não quis comentar as indicações.

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