O verdadeiro poder de Bacellar na segurança pública e no 1º escalão do Governo do RJ

Mesmo após rompimento, Castro manteve indicações do deputado em cargos-chave e preservou sua influência em áreas estratégicas da administração


Por Wilson França | Diário do Rio

O alcance político do deputado Rodrigo Bacellar (União Brasil), preso anteontem por ordem do STF sob suspeita de vazar uma operação policial, extrapola a Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), onde presidia a Casa com unanimidade inédita. O parlamentar consolidou influência no núcleo do governo Cláudio Castro (PL), especialmente na área da segurança pública e em programas sensíveis ao eleitorado, como o Segurança Presente, que hoje opera 58 bases em diferentes regiões do estado.

Rodrigo Bacellar e Claudio Castro

Embora o rompimento político entre os dois tenha ocorrido em julho, o governador não exonerou nomes ligados ao deputado nem reduziu seu espaço na máquina pública. No entorno do Palácio Guanabara, a explicação recorrente era a de que Bacellar integrava o grupo político da sucessão e, por isso, participava das principais decisões.

Interferência na Segurança Pública

A influência do deputado se cristalizou em 2023, quando o governo enfrentava dificuldades para fechar as contas. À época, o Executivo pediu autorização da Alerj para usar R$ 4,5 bilhões de fundos estaduais e evitar atrasos na folha de pagamento. Durante as negociações, Bacellar condicionou o avanço do projeto à troca do comando da Polícia Civil.

O governo cedeu. Em menos de duas semanas no cargo, o então chefe da corporação, José Renato Torres, soube pela imprensa que seria substituído e pediu exoneração. O nome defendido por Bacellar era o do delegado Marcus Amim, ligado ao ex-deputado Márcio Canella (União Brasil), atual prefeito de Belford Roxo, na Baixada Fluminense.

No entanto, havia um obstáculo: a Lei Orgânica da Polícia Civil proibia que o chefe tivesse menos de 15 anos na carreira, requisito que Amim não cumpria. Para contornar o problema, Castro enviou à Alerj um projeto modificando a exigência. Em apenas dois dias, o texto foi aprovado com apenas dez votos contrários e sancionado.

Amim permaneceu quase um ano no cargo até ser substituído pelo delegado Felipe Curi, atual secretário de Polícia Civil. Treze dias depois, ganhou um posto na Superintendência Militar da Alerj, indicado pelo próprio Bacellar, onde permanece até hoje.

Apesar das mudanças no topo da corporação, delegados afirmam que a influência do deputado nas nomeações do interior, especialmente nas regiões Norte e Noroeste, seus redutos eleitorais, continuou ativa.

Segurança Presente como trunfo político

Eleito deputado estadual em 2018, com aproximados 27 mil votos, Bacellar assumiu em 2021 a Secretaria de Governo, pasta responsável pela gestão do Segurança Presente. Apesar de ter deixado o cargo no ano seguinte para disputar a reeleição, manteve ascendência sobre a estrutura do programa, que tem forte apelo junto ao eleitorado por reforçar o policiamento ostensivo. No pleito de 2022 sua votação saltou para cerca de 98 mil votos.

Nos bastidores, políticos afirmam que Bacellar e o presidente nacional do União Brasil, Antônio Rueda, influenciaram diretamente na escolha do atual secretário de Governo, André Moura. Também são atribuídas ao deputado nomeações estratégicas dentro do programa, onde policiais militares ocupam posições de chefia.

Com a segurança pública despontando como principal tema da eleição estadual de 2026, adversários afirmam que Bacellar via o programa como plataforma eleitoral. Antes do rompimento, ele aparecia como principal nome do governador para a sucessão e seria protagonista nas inaugurações da expansão prevista para este ano.

Nas inserções partidárias do União Brasil, o deputado reforçou sua associação ao programa, apresentando-se como responsável por ampliar bases e melhorar indicadores.

Atritos com Castro e disputa por protagonismo

Após a ruptura com Castro, ocorrida há cerca de 4 meses, quando o deputado assumiu interinamente o cargo de governador e demitiu o secretário de Transportes ,Washington Reis (MDB), importante aliado com reduto eleitoral na Baixada Fluminense, Bacellar se afastou de agendas da área de segurança, mas manteve movimentos para preservar sua conexão com o tema. Em agosto, horas depois de o governador anunciar projetos voltados ao enfrentamento à violência, o presidente da Alerj se antecipou e protocolou seu próprio pacote legislativo, batizado de “PEC (Pacote de Enfrentamento ao Crime)”, retomando pontos divulgados pelo Executivo.

A manobra foi interpretada como tentativa de marcar território e constranger o Palácio Guanabara. Para evitar agravamento da crise, Castro, mais uma vez, optou por não retaliar e manteve aliados do deputado em posições de comando.

Indicações preservadas

Mesmo com o distanciamento político, seguem em cargos estratégicos indicados de Bacellar, como: Roberta Barreto, secretária de Educação; Pedro Henrique de Oliveira Ramos, presidente do DER;Diretores na Codin (Companhia de Desenvolvimento Industrial) e na AgeRio (Agência Estadual de Fomento).

A permanência dessas nomeações indica que, apesar de enfraquecido com a prisão e do rompimento formal com o governador, o deputado ainda sustenta parte de seu capital político dentro da administração estadual, reflexo das alianças construídas desde que ingressou no primeiro escalão do governo, há três anos.

Com uma grande bancada de direita eleita na Alerj em 2022, Bacellar e Castro costuraram alianças sólidas com outros partidos e têm os votos de mais de 60% dos 70 deputados da Casa, aprovando ou rejeitando o que quiserem na Casa. Minoritária no parlamento, coube à bancada de oposição fazer “alianças” esporádicas para a aprovação de algum projeto especifico (desde que não seja polêmico), fazer discursos de protesto e, mutas vezes, se recolher ao silêncio.

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