PF vê ‘amadorismo’ e falhas graves de governança do BRB em operações com o Master

Investigação diz que houve ausência de adoção dos cuidados básicos no negócio; banco público e Master afirmam que transações foram supervisionadas pelo BC


Por Aguirre Talento e Alvaro Gribel | O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - A investigação da Polícia Federal sobre o Banco Master listou uma série de falhas e omissões do Banco de Brasília (BRB) envolvendo a aquisição de R$ 12,2 bilhões em falsas carteiras de crédito consignado e apontou que o banco público só conseguiu recuperar esses recursos por “pura boa vontade” do Master.

Imagem da câmera de segurança do Aeroporto de Guarulhos mostra dono do Banco Master, Daniel Vorcaro, recebendo voz de prisão de um policial federal à paisana Foto: Reprodução Estadão

Essa apuração resultou na prisão, na semana passada, do dono do Master, Daniel Vorcaro, e outros alvos, além do afastamento do então presidente do BRB, Paulo Henrique Costa. A defesa de Vorcaro e o BRB afirmaram que as ações foram supervisionadas pelo Banco Central e negaram irregularidades (leia mais abaixo).

Os investigadores da PF fizeram uma análise de como o Banco Master comprou falsas carteiras de crédito consignado da empresa Tirreno por R$ 6,7 bilhões e, sem adotar nenhum cuidado para verificar a solidez desses ativos, repassou em seguida essas carteiras para o BRB por R$ 12,2 bilhões.

Esse montante, porém, foi devolvido ao banco público. Conforme mostrou o Estadão, a devolução de ativos do Master para o BRB, ao longo dos últimos meses, foi um dos motivos que fizeram o Banco Central segurar a liquidação do banco privado. O receio era que isso, se fosse feito de forma precipitada, pudesse levar o BRB a ter problemas de insolvência. Ainda há dúvidas, no entanto, sobre a solidez desses ativos. O risco é que eles não “performem”, como se diz no jargão do mercado financeiro, o que poderia exigir aportes do acionista controlador - no caso, o governo do Distrito Federal.

A análise da PF identificou falhas graves na governança do BRB e apontou que o banco público deliberadamente ignorou as inconsistências nas carteiras de crédito, apenas para repassar recursos e tentar impedir o banco de Vorcaro de quebrar.

De acordo com a PF, o BRB violou os seus próprios limites de exposição máxima em transações financeiras, porque possuía capital do seu patrimônio de referência no valor total de R$ 3 bilhões em dezembro de 2024. Conforme as resoluções do sistema financeiro, esse valor “limitava sua exposição máxima a um único cliente a cerca de R$ 753 milhões e o impedia de fazer um DI (depósito interbancário) ou empréstimo ao Banco Master equivalente a 12,2 bilhões”.

A investigação aponta que o BRB só admitiu as inconsistências nas carteiras de crédito compradas do Master depois que o Banco Central iniciou sua investigação e pediu esclarecimentos sobre o negócio.

De forma novamente atípica, segundo a PF, o BRB decidiu substituir essas carteiras de crédito por outros ativos do Banco Master, sem apresentar pareceres jurídicos nem documentos que respaldassem a transação.

Isso, para os investigadores, mostra que a intenção do Banco de Brasília era apenas injetar recursos na instituição de Daniel Vorcaro. Foi neste momento que, aponta a PF, a “boa vontade” do Master permitiu que o BRB não tivesse um prejuízo bilionário e pudesse substituir os ativos.

“O Banco Master, por sua vez, silencia. Aparentemente, sem qualquer resistência permite que o BRB escolha e troque, a partir de critérios elegidos pelo próprio BRB, o montante e os créditos que substituiriam as CCBs falsas. Não são colacionados pareceres jurídicos, manifestações de áreas técnicas, estudos quanto a viabilidade da substituição, legislação que justifique, nada. A substituição, apesar de violar os termos do contrato, é apresentada de forma natural, automática e instantânea”, diz a PF.

Prosseguem os investigadores: “A recuperação dos R$ 12,2 bilhões não passou de pura boa vontade do Banco Master, o que indica amadorismo na governança e completa ausência de ações prudenciais”.

A PF ainda acrescenta que o BRB acertou com a empresa Tirreno a devolução dos recursos em parcelas mensais, descumprindo o previsto em contrato que seria a devolução em prazo de um dia útil.

A defesa de Vorcaro afirmou, em habeas corpus apresentado à Justiça, que adotou ações de “boa fé” para substituir as carteiras inconsistentes e repassar outros ativos ao BRB, que não são objeto da investigação. Negou ainda a existência de fraudes ou irregularidades na gestão do banco Master e disse que os atos foram supervisionados pelo Banco Central.

O BRB, em comunicado divulgado à imprensa, afirmou que as carteiras foram liquidadas ou substituídas e que não há exposição para o banco.

“Em relação às matérias divulgadas pela mídia, o BRB reafirma a solidez da instituição diante da recente cobertura sobre operações de cessão de carteiras. Dos R$ 12,76 bilhões divulgados pela imprensa, e referentes à exposição bruta de carteiras com documentação fora do padrão exigido, mais de R$ 10 bilhões já foram liquidados ou substituídos, e o restante não constitui exposição direta ao Banco Master. Todo o processo de substituição de carteiras e adição de garantias, prática prevista em contrato, foi reportado e acompanhado pelo Banco Central”, afirmou o BRB.

Siga nosso canal no WhatsApp e receba notícias relevantes para suas escolhas políticas

0/Post a Comment/Comments

Grato por sua colaboração.