PF diz que ex-nora de Lula atuou para liberar recursos do MEC para empresa suspeita de fraudes

Inquérito aponta que ex-sócio de filho de Lula, Kalil Bittar, também foi contratado por empresário; Secom e defesas foram procuradas mas ainda não se manifestaram


Por Aguirre Talento, Rayssa Motta e Fausto Macedo | O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA E SÃO PAULO - Uma investigação da Polícia Federal apontou indícios que uma ex-nora do presidente Luiz Inácio Lula da Silva atuou em Brasília para a liberação de recursos do Ministério da Educação para uma empresa investigada por suspeitas de fraudes em licitações e desvios de recursos públicos. A PF ainda diz que o empresário Kalil Bittar, ex-sócio de um dos filhos de Lula, também atuou para a mesma empresa.

Carla Ariane Trindade, ex-nora de Lula. Foto: Reprodução/processo judicial

Por causa disso, a PF cumpriu busca e apreensão nesta quarta-feira, 12, nos endereços de Carla Ariane Trindade e de Kalil Bittar. Carla Ariane foi casada com Marcos Cláudio Lula da Silva, que é filho da ex-primeira dama Marisa Letícia. Kalil é irmão de Fernando Bittar, um dos dois donos do sítio de Atibaia que foi objeto de investigação na Lava Jato. Kalil também foi um dos sócios de Fábio Luiz, o Lulinha, na empresa Gamecorp.

O Estadão procurou a Secretaria de Comunicação do Palácio do Planalto e as defesas dos citados, mas ainda não houve manifestação. O espaço segue aberto.

A Operação Coffee Break foi autorizada pela 1ª Vara Federal de Campinas, que determinou a apreensão dos passaportes deles.
As suspeitas envolvem a empresa Life Tecnologia Educacional, que recebeu cerca de R$ 70 milhões para fornecimento de kits e livros escolares para três prefeituras do interior de São Paulo. Segundo a PF, o material vendido era superfaturado e os valores eram desviados para empresas de fachada. A empresa foi procurada, mas não se manifestou.

A investigação apontou que o dono da empresa, André Mariano, contratou Carla Ariane e Kalil Bittar para obter vantagens junto ao governo federal. Na agenda de Mariano apreendida pela PF, o nome dela estava acompanhado da alcunha “Nora”, uma referência ao seu antigo parentesco com Lula. André Mariano foi alvo de mandado de prisão na operação de hoje.

Na decisão, a 1ª Vara Federal de Campinas diz que os indícios apresentados pela PF mostram que Carla atuou no governo federal em defesa dos interesses privados do empresário investigado.

“Afirma a autoridade policial que as evidências demonstram que Carla parece ter, ou alega ter, influência em decisões do Governo Federal, notadamente no FNDE, bem como nos municípios de Mauá/SP, Diadema/SP, Campinas/SP, entre outros. Que, ao menos duas vezes, Carla teria ido a Brasília com passagens custeadas por André Mariano e que a dinâmica dos agendamentos, muitas vezes corroborados por outros arquivos, demonstra que Carla defende os interesses privados de Mariano junto a órgãos públicos, principalmente na busca por recursos e contratos”, diz a decisão.

A PF diz ainda que André Mariano pagava uma “mesada” a Kalil em troca da defesa dos seus interesses no governo Lula após a eleição do presidente em 2022. Essa informação apurada pelos investigadores se baseia nas anotações, conversas do telefone celular e quebra do sigilo bancário. A investigação diz que Kalil atuou para prospectar novos negócios para a empresa.

“Em 28/11/2022, já após o segundo turno das eleições presidenciais de 2022 (30 de outubro de 2022), fica claro que Mariano passa a apostar abertamente na maior influência de Kalil em ‘novos ministérios’, ‘MEC’, ‘estados do PT’, dentre outros. É no mesmo período que Mariano passa a pagar uma ‘mesada’ para Kalil, por vezes utilizando a conta bancária da esposa/companheira deste último”, diz a PF.

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