O Banco Central do Brasil foi advertido por anos sobre riscos do Banco Master

O sistema nacional de seguro de depósitos, FGC, enviou várias cartas de advertência ao banco central, e executivos dos maiores credores do Brasil também entraram em contato com a autoridade monetária para expressar preocupação.


Por Matheus Piovesana e Cristiane Lucchesi | Bloomberg

O principal regulador financeiro do Brasil foi alertado por anos de que o Banco Master SA, que foi liquidado esta semana em meio a alegações de fraude, estava se expandindo em ritmo alarmante enquanto mantinha ativos opacos.

Funcionários do Banco Central do Brasil deixam a sede do Banco Master em São Paulo, Brasil, em 18 de novembro. Fotógrafo: Victor Moriyama/Bloomberg

O sistema nacional de seguro de depósitos, conhecido como FGC, enviou várias cartas de advertência ao banco central, enquanto executivos dos maiores credores do Brasil, que são os principais financiadores da FGC, também entraram em contato com a autoridade monetária para expressar preocupação, segundo pessoas familiarizadas com o assunto.

Alguns banqueiros e executivos da FGC chegaram a falar diretamente com o ex-presidente do banco central, Roberto Campos Neto, que prometeu agir, disseram as pessoas que pediram para não serem identificadas citando informações privadas. Campos Neto deixou o cargo em janeiro e agora faz parte do conselho da Nu Holdings Ltd. Ele foi substituído por Gabriel Galipolo, que agora é o chefe do banco central que enfrenta a tentativa de resolver a falência do banco.

A FGC afirmou que, desde 2019, possui um acordo de cooperação com o banco central, responsável pela inspeção e regulamentação das instituições financeiras, e esse acordo promove a troca contínua de informações entre as instituições em reuniões regulares com o objetivo de fortalecer a estabilidade do sistema financeiro nacional, segundo um comunicado. A FGC acrescentou que não reconhece declarações atribuídas aos seus administradores sob anonimato, nem a existência de comunicações ocasionais fora dos canais institucionais.

Campos Neto recusou-se a comentar, enquanto um representante do banco central do Brasil não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.

Na terça-feira, o banco central anunciou que estava liquidando a Master, uma medida que, segundo a FGC, exigirá 41 bilhões de reais (7,7 bilhões de dólares) para pagar cerca de 1,6 milhão dos credores da Master, um valor recorde para o fundo de seguros.

A liquidação da empresa pode custar ainda mais para a FGC, chegando a 55 bilhões de reais, caso outros bancos menores relacionados ao caso também sejam liquidados, segundo uma pessoa familiarizada com o assunto.

Tem dinheiro para isso: no final de setembro, a FGC possuía 160 bilhões de reais em ativos e cerca de 122 bilhões de reais em liquidez em dinheiro, segundo um comunicado divulgado na terça-feira. Mas o fundo precisará ser recapitalizado já no início do próximo ano pelos maiores bancos brasileiros, disse a pessoa.

A FGC ainda está trabalhando para descobrir quanto os bancos precisarão pagar, disse outra pessoa familiarizada com o assunto. Os credores provavelmente vão reabastecer essa taxa adiantando futuras contribuições, mas o processo pode levar alguns anos, acrescentou a pessoa.

A FGC afirmou em comunicado que não há um prazo definido nas regulamentações para o reabastecimento e que o tema será discutido, considerando o impacto para o sistema e preservando a capitalização do fundo.

O diretor executivo do banco, Daniel Vorcaro, foi preso em uma investigação federal de fraude policial. Vorcaro e seus parceiros criaram o Banco Master por meio da compra de um pequeno banco em 2017, onde então ajustaram sua estratégia e nome. A Master dependia fortemente do financiamento de investidores individuais usando o seguro FGC, que é financiado por exigências de reserva dos bancos. Quanto maiores os depósitos que um banco tem, mais ele precisa contribuir para a FGC.

Vorcaro já havia declarado anteriormente que está disposto a cooperar com as autoridades, segundo um comunicato divulgado na terça-feira.

A FGC cobre até 250.000 reais de cada investidor, com um limite de 1 milhão de reais ao longo de quatro anos.

Ao mesmo tempo, uma parte considerável dos ativos da Master consistia em fundos vinculados ao crédito e fundos de investimento em ações, que são mais difíceis de vender do que títulos do governo. Esses fundos representavam 69% dos ativos líquidos do banco em junho de 2024, disse a Moody's.

Houve preocupações porque não estava claro exatamente qual era o negócio do Master, pontos que também foram levantados ao banco central, disse outro CEO do banco em particular.

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