Assessor de Nikolas tinha negócios com empresa investigada pela PF

Operação Rejeito: inquérito em tramitação na Justiça Federal aponta que o advogado Thiago Rodrigues teria intermediado negociação de lavra de minério


Alessandra Mello | Estado de Minas

Thiago Rodrigues de Faria, assessor jurídico do deputado federal Nikolas Ferreira (PL), foi um dos intermediários, por meio de um contrato de confiabilidade, de uma negociação envolvendo uma lavra de minério e uma das empresas investigadas pela Operação Rejeito, a Gmais Ambiental, que, segundo a Polícia Federal (PF), seria de fachada. A Gmais, de acordo com a investigação, teria como verdadeiros donos e gestores o delegado da Polícia Federal Rodrigo Teixeira e o lobista Gilberto Carvalho, ligado ao PL mineiro, ambos presos pela Operação Rejeito.

Por meio de nota, Nikolas informou "o profissional atua regularmente como advogado, com escritório registrado, e não há qualquer impedimento jurídico" | Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press

Todas essas informações fazem parte das centenas de páginas do inquérito em tramitação na Justiça Federal ao qual o Estado de Minas teve acesso.

Thiago Rodrigues também assina a denúncia feita por Nikolas contra a deputada federal Duda Salabert (PDT) na Polícia Federal, por supostas irregularidades na prestação de contas de campanha eleitoral. Essa denúncia foi elaborada com base em informações levantadas pelo empresário e ex-deputado estadual João Alberto Paixão Lages, também preso na Operação Rejeito.

Ela foi protocolada na PF com o apoio de Rodrigo Teixeira e de Gilberto Carvalho – que também já foi assessor na Câmara Municipal de Belo Horizonte do vereador Uner Augusto (PL), suplente de Nikolas quando o deputado exercia mandato no Legislativo municipal.

Conforme as investigações, o assessor jurídico de Nikolas, lotado no gabinete do parlamentar em Brasília, assinou em janeiro deste ano, por meio de sua empresa (Thiago Rodrigues Sociedade Individual de Advocacia), constituída em agosto de 2024, um contrato de intermediação de compra e venda de um lavra minerária em sociedade com a Gmais, empresa que teria sido criada para ocultar os verdadeiros donos, segundo a PF.

Esse contrato também teve como sócia a mineração Topázio Imperial, que detém os direitos minerários de uma lavra onde está localizada uma das barragens de maior risco do estado. O grupo, ainda de acordo com as investigações, estava interessado em vender a lavra da Topázio para exploração minerária. Mas, antes, precisava desembaraçar a empresa, detentora dos direitos minerários de uma lavra em Ouro Preto, no Distrito de Rodrigo Silva, cuja exploração foi suspensa em função de uma ação movida pelo Ministério Público Federal (MPF).

Isso por causa da barragem Água Fria, considerada um dos sete barramentos com maior risco de rompimento no país. A barragem, conforme o MPF, foi construída nos mesmos moldes das que romperam em Mariana, em novembro de 2015, e Brumadinho, em janeiro de 2019.

Atividades suspensas

A Gmais, em cujo endereço funciona uma clínica de estética, no Bairro Santo Agostinho, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, tinha procuração da Topázio para atuar junto aos órgãos ambientais, visando a retomada das atividades minerárias. A partir da Operação Rejeito, a Gmais teve suas atividades suspensas, além dos bens sequestrados e os sigilos quebrados por autorização judicial.

A empresa já teve como sócio oficial Gilberto Carvalho, mas ele deixou a empresa e em seu lugar ficou seu marido, Luiz Fernando Vilela Leite.

Pelo contrato, assinado em janeiro deste ano com a Gmais, Thiago Rodrigues, por meio de seu escritório, receberia 25% do lucro total, estimado entre de US$ 30 e US$ 45 milhões, caso a autorização para voltar a minerar a área da Topázio fosse concluída com sucesso e a lavra vendida. A Gmais ficaria com 50% e um escritório de contabilidade (Estabil Contabilidade), com 25%.

“Chamaram a atenção os valores prováveis da negociação sobre os quais os apresentantes seriam remunerados. O valor inicial era de US$ 30.000.000,00 podendo ultrapassar os US$ 45M, valor que geraria 20% de comissão aos parceiros Gmais, Estabil escritório contábil e Thiago Rodrigues advocacia”, diz um trecho do inquérito.

Toda essa transação foi feita por meio de um contrato de confiabilidade, cujos nomes dos beneficiários não poderiam aparecer publicamente, e que, de acordo com as investigações, contou com a participação de Thiago Rodrigues na elaboração dos termos do contrato.

Rodrigues também foi o responsável, segundo a investigação, pela criação, em abril de 2024, de um grupo de WhatsApp juntamente com Gilberto Carvalho, batizado de Projeto Ferro, no qual os investigados discutiam os termos da transação envolvendo a lavra da Topázio, firmada por meio do contrato assinado em janeiro deste ano, e cuja versão final, de acordo com as mensagens interceptadas, foi enviada para a conferência de Thiago Rodrigues.

Projeto Ferro

Em uma das conversas nesse grupo, Thiago Rodrigues pede uma reunião com alguém identificado por ele apenas como R, mas que para a PF seria o delegado Rodrigo Teixeira. “Chegou a falar com o R sobre um call nosso?”, escreveu no grupo Projeto Ferro o assessor jurídico de Nikolas Ferreira.

Ainda de acordo com as investigações, antes de ser firmado o contrato da Gmais para o arrendamento da lavra da Topázio, várias versões de minutas foram trocadas entre os investigados. E, em uma delas, quem figuraria como sócio era o ex-deputado João Alberto Lages.

Rodrigo Teixeira, que antes da operação ocupava o cargo de diretor do Serviço Geológico Brasileiro, órgão ligado ao Ministério de Minas e Energia, é investigado por suposta atuação oculta e ativa no mercado minerário, mediante a utilização de pessoas jurídicas interpostas e articulações com empresários investigados por organização criminosa, corrupção e lavagem de dinheiro.

Pedido de votos no Crea-MG

Muito ligado ao PL mineiro, Gilberto Carvalho teve Nikolas Ferreira como principal cabo eleitoral em sua campanha para o comando do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura de Minas Gerais (Crea-MG). Ele também foi assessor da coronel Cláudia Romualdo, que foi candidata a vice-prefeita da chapa do deputado estadual Bruno Engler (PL) à Prefeitura de Belo Horizonte, em 2024. Ele é apontado pela Operação Rejeito como o lobista junto ao Legislativo e aos órgãos públicos.

Por meio de nota, o deputado Nikolas Ferreira afirmou que “trata-se de uma área (de mineração) disponível no mercado”. “O advogado, no exercício de sua atividade privada, pode intermediar esse tipo de negociação. Importante destacar que a área mencionada não é de titularidade de nenhum dos investigados. O profissional atua regularmente como advogado, com escritório registrado, e não há qualquer impedimento jurídico.

Ressalta-se que se trata de atividade privada e que o deputado não possui qualquer relação”. Procurado, Thiago Rodrigues afirmou que “como advogado recebeu a proposta de tentar vender essa área”.

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