Alepe aprova CPI para investigar denĂșncia de irregularidades em contratos de publicidade do governo Raquel Lyra

ComissĂŁo vai investigar um contrato de R$ 1,2 bilhĂŁo firmado entre o governo, uma agĂȘncia de SĂŁo Paulo, a E3 Comunicação, e outras empresas. De acordo com o requerimento, um primo da governadora seria beneficiado pelo negĂłcio.


Por Artur Ferraz e Mariane Monteiro | g1 PE

A Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) aprovou, nesta segunda-feira (4), a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar indícios de irregularidades em contratos de publicidade firmados pelo governo Raquel Lyra (PSD).

PlenĂĄrio da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) — Foto: Roberto Soares/Alepe Divulgação

A medida atende a um requerimento feito pela deputada Dani Portela (PSOL). No pedido de abertura da CPI, a parlamentar aponta "indĂ­cios de direcionamento ou conflito de interesses" envolvendo a governadora e familiares dela.

No texto, a deputada pede que os parlamentares investiguem um contrato de dez anos, que pode chegar custar R$ 1,2 bilhĂŁo, firmado entre o governo e agĂȘncias de comunicação. Uma delas, a E3 Comunicação Integrada Ltda, de SĂŁo Paulo, Ă© suspeita de ter "sociedade oculta" com um primo da governadora.

Segundo o texto do requerimento, logo depois de vencer a licitação, a empresa anunciou a abertura de uma filial no Recife, num imóvel que pertence ao parente de Raquel Lyra, Waldemiro Ferreira Teixeira, no bairro do Pina, na Zona Sul.

Ainda de acordo com o documento, no mesmo mĂȘs em que a agĂȘncia venceu o processo licitatĂłrio, em abril deste ano, uma funcionĂĄria da agĂȘncia Makplan, que pertence a Teixeira, deixou a empresa e começou a trabalhar na E3 Comunicação, o que levantou suspeitas de que ele teria uma "sociedade oculta" com a concorrente.

Além disso, segundo o requerimento, outro contrato, firmado em 2019, foi prorrogado por mais de sete vezes, ultrapassando o limite de 60 meses (cinco anos) previsto em lei, a um custo adicional de R$ 100 milhÔes.

Procurado, o governo declarou que todos os contratos foram feitos de acordo com a lei. JĂĄ a E3 Comunicação informou que venceu a licitação com outras trĂȘs empresas e que todo o processo "seguiu Ă  risca" a legislação. A Makplan enviou nota, assinada por Waldemiro Teixeira, que afirmou que nĂŁo Ă©, "direta ou indiretamente, sĂłcio de qualquer agĂȘncia participante ou vencedora da licitação mencionada" (saiba mais abaixo).

A aprovação para a criação da CPI, assinado pelo presidente da Alepe, Álvaro Porto (PSDB), foi publicada em edição extra do Diårio Oficial do estado.

No documento, ele dĂĄ um prazo de dez dias Ășteis para que as lideranças da Casa indiquem seus representantes para formar a comissĂŁo. ApĂłs instaurada, a CPI tem um prazo regimental de 120 dias, podendo ser prorrogado por mais 90 dias.

O requerimento para abertura da CPI foi assinado por outros 19 parlamentares, incluindo o presidente da Casa, dois a mais do que o mĂ­nimo necessĂĄrio para se aprovar a abertura de uma comissĂŁo.

A CPI vai durar atĂ© 120 dias, podendo ser prorrogada por mais 90 dias, e terĂĄ nove membros titulares e outros nove suplentes. Depois que os lĂ­deres dos partidos indicarem seus representantes, os deputados tĂȘm 15 dias para instaurar a comissĂŁo.

O que dizem os envolvidos

Em nota, o governo afirmou que "todo o processo licitatĂłrio de publicidade institucional foi conduzido de acordo com a legislação vigente, respeitando os princĂ­pios constitucionais da legalidade, impessoalidade e transparĂȘncia".

O texto diz ainda que "o contrato firmado tem vigĂȘncia inicial de 12 meses, com valor anual de R$ 120 milhĂ”es. A possibilidade de renovação por atĂ© 10 anos segue o previsto na Lei 14.133/2021, que autoriza prazos estendidos para serviços contĂ­nuos — como Ă© o caso da publicidade institucional — com base em critĂ©rios de eficiĂȘncia e planejamento de longo prazo".

JĂĄ a agĂȘncia E3 Comunicação informou, tambĂ©m por nota, que:
  • venceu a licitação com outras trĂȘs empresas (Nova SB, AgĂȘncia UM e BTS) para gerenciar, juntas, um contrato de R$ 120 milhĂ”es por ano, a depender do desempenho de cada agĂȘncia e do vencimento ou nĂŁo de concorrĂȘncias internas entre elas;
  • o contrato em questĂŁo Ă© um ano e pode ou nĂŁo ser prorrogado por mais nove, com base na Nova Lei de LicitaçÔes, a critĂ©rio do governo e do desempenho das agĂȘncias contratadas;
  • todo o processo seguiu Ă  risca a lei e as diretrizes da licitação;
  • vai comprovar a legalidade do processo "com apresentação de farta documentação comprobatĂłria", que sempre esteve Ă  disposição dos ĂłrgĂŁos de fiscalização e controle;
  • estĂĄ Ă  disposição para colaborar com as autoridades e sempre pautou sua trajetĂłria pela Ă©tica, transparĂȘncia e "pleno cumprimento dos contratos assumidos".

Em nota, Waldomiro Teixeira afirma que nĂŁo Ă©, "direta ou indiretamente, sĂłcio de qualquer agĂȘncia participante ou vencedora da licitação mencionada. Qualquer tentativa de estabelecer essa associação Ă© infundada e serĂĄ contestada pelas vias legais cabĂ­veis".

No texto, ele diz ainda: "Reitero que nĂŁo participei, sob nenhuma forma, da licitação referida. Ainda assim, cumpre esclarecer que, segundo os ditames da Lei nÂș 14.133/2021, especificamente no seu art. 14, IV, o impedimento Ă  participação em licitaçÔes impĂ”e-se apenas Ă queles que mantenham parentesco atĂ© o terceiro grau. Este, evidentemente, nĂŁo Ă© o meu caso."

A note continua: "Assim, a vinculação do meu nome a supostas irregularidades não possui qualquer fundamento jurídico e não encontra respaldo nos fatos nem na legislação. Trata-se de narrativa que desvirtua a verdade, instrumentaliza as instituiçÔes jurídicas e atinge reputaçÔes de forma indevida."

TCE, MPPE e PolĂ­cia tambĂ©m apuram denĂșncia

Em entrevista coletiva nesta segunda (4), a deputada Dani Portela disse que o pedido de abertura da CPI foi elaborado depois que um grupo de parlamentares encaminhou o caso para o MinistĂ©rio PĂșblico de Pernambuco (MPPE) e a PolĂ­cia Civil, pedindo a abertura de uma investigação.

"Isso Ă© uma denĂșncia que Ă© muito grave, e por isso se provocou o MP e se provocou inclusive a polĂ­cia civil para que se instaure um processo de investigação. EntĂŁo, nada disso pode ser feito de maneira leviana. Isso tem muita seriedade, Ă© dinheiro pĂșblico e nĂŁo Ă© qualquer valor. É um valor bilionĂĄrio", disse.

Ela afirmou tambĂ©m que os contratos estĂŁo passando por um "pente fino" e que o Tribunal de Contas do Estado (TCE) vai apresentar, ainda neste mĂȘs, o resultado de uma auditoria que tambĂ©m apura o caso.

"Esses indĂ­cios precisam ser comprovados, se existem ou nĂŁo. Para isso, tem o Tribunal de Contas, tem o MinistĂ©rio PĂșblico, tem a PolĂ­cia Civil provocando uma investigação e tem uma CPI na Assembleia Legislativa, como um poder independente de outros poderes, e que pode fazer isso no tempo que achar necessĂĄrio", declarou.

A parlamentar disse, ainda, que o objetivo da CPI Ă© investigar as denĂșncias, e nĂŁo "atrapalhar o governo".

"Se alguĂ©m pode falar em excessos com publicidade e propaganda, esse alguĂ©m sou eu. Porque eu jĂĄ fazia essas denĂșncias, quando eu era vereadora, contra o uso excessivo de valores em propaganda nas gestĂ”es de JoĂŁo Campos [prefeito do Recife, do PSB]. Eu nĂŁo tenho assumido essa polarização de antecipar 2026. Pernambuco tem muita coisa ainda para acontecer, muita ĂĄgua para rolar. O que a gente quer Ă©, enquanto parlamentar, fiscalizar", afirmou.

A deputada declarou também que não tem nenhuma "questão pessoal" com a governadora Raquel Lyra.

"Essa CPI tem que ser pluripartidĂĄria, Ă© preciso que ela envolva todo mundo, nĂŁo Ă© Dani Portela, do PSOL contra a governadora, nĂŁo Ă© essa a questĂŁo. A questĂŁo Ă© olhar para um contrato bilionĂĄrio que nunca foi visto antes na histĂłria do estado, que hoje estĂĄ sob gestĂŁo da governadora Raquel Lyra, e de ter familiares da governadora envolvidos em alguns indĂ­cios de regularidade que serĂŁo apurados", disse.

0/Post a Comment/Comments

Grato por sua colaboração.