Investigações atingem aliados de Ciro Nogueira e o afastam de eleição presidencial

Casos de Master, Refit, ex-assessor e dono de bets envolveram aliados e amigos do presidente do PP

Aliado diz que senador é visado por ser principal articulador de projeto da direita


Guilherme Seto | Folha de S.Paulo

Brasília - Uma série de investigações recentes atingiu ao menos quatro aliados do senador e presidente nacional do PP Ciro Nogueira, gerando desgaste à sua imagem e minando seus projetos eleitorais para 2026. O mais recente dos alvos foi Daniel Vorcaro, dono do Banco Master, preso na operação Compliance Zero na segunda-feira (17), investigado por supostos crimes contra o sistema financeiro.

Senador Ciro Nogueira (PP-PI), presidente do PP, durante entrevista à Folha - Gabriela Biló-3.set.2025/Folhapress

Procurado para tratar do tema, o senador não enviou resposta. Todos os investigados negam o cometimento de ilegalidades.

Pouco antes de Vorcaro, outras pessoas próximas de Ciro tornaram-se alvo de investigações rumorosas. No começo do novembro, um ex-assessor do senador, Victor Linhares, foi alvo de ação de busca e apreensão no âmbito da operação Carbono Oculto 86, que investiga a infiltração do PCC (Primeiro Comando da Capital) no mercado de combustíveis no Piauí.

Linhares não é investigado na operação, mas a Polícia Civil quer ouvi-lo a respeito de sua proximidade com os principais suspeitos de encabeçar o esquema. Como mostrou o Painel, ele fez viagens internacionais com os investigados e gravou vídeos em tom descontraído. Além da relação profissional duradoura, Ciro é padrinho de uma das filhas de Linhares.

Em agosto, a Carbono Oculto, megaoperação que mira a relação entre o setor de combustíveis, o PCC e a Faria Lima, citou que a empresa de Ricardo Magro, a Refit, nome fantasia da refinaria de Manguinhos, do grupo Fit, teria entrado no esquema da facção. O empresário nega.

Em 2024, Ciro apresentou emendas que ganharam o apelido de "emendas Refit", a partir da interpretação de que beneficiavam a empresa de Magro, que tem dívidas bilionárias de ICMS. As emendas propostas pelo senador criavam exceções no enquadramento de uma empresa como devedora contumaz que poderiam, em tese, ser aproveitadas pela Refit.

Em maio, o empresário Fernando Oliveira Lima, conhecido como Fernandin OIG, então na mira da CPI das Bets, entrou no radar da Polícia Federal, que pediu autorização ao STF (Supremo Tribunal Federal) para investigar as relações entre ele e Ciro Nogueira — que defendeu o empresário de críticas na CPI e viajou em seu jato para fazer turismo em Mônaco, mostrou reportagem da revista piauí.

Fernandin OIG, Linhares e Ciro realizaram uma triangulação de recursos que também foi revelada pela revista piauí. O ex-assessor recebeu R$ 625 mil do empresário das bets. No mesmo período, Linhares transferiu R$ 35 mil para a conta pessoal do senador.

Nogueira disse à revista que o valor era o reembolso de uma reserva de hotel em Capri, na Itália, e que os R$ 625 mil foram o pagamento por um relógio de luxo, negociado diretamente entre o empresário e o seu ex-assessor.

No caso de Vorcaro, além da companhia em festas e outros eventos, Ciro converteu-se em uma das principais pontes do banqueiro com o mundo político. Foi por meio dessas relações que Vorcaro conseguiu avançar na negociação de venda do Master para o BRB (Banco de Brasília), que acabou vetada pelo Banco Central.

Enquanto o negócio travava, Ciro apresentou iniciativas que poderiam ajudar Vorcaro. Uma medida foi a chamada "emenda Master", em 2024, com o objetivo de aumentar o valor de cobertura do FGC (Fundo Garantidor de Crédito) de R$ 250 mil para R$ 1 milhão. Caso tivesse sido aprovada, ela teria implicado em um rombo ainda maior no fundo hoje — o FGC já projeta um resgate de R$ 41 bilhões atualmente, o maior da história.

Outra medida da qual Ciro participou foi uma ofensiva para aprovar um projeto de lei que daria poderes ao Congresso para demitir diretores e o presidente do Banco Central, interpretada como uma forma de pressionar a instituição no momento em que ela decidia se aprovava ou não a venda do Master para o BRB.

Nesse mesmo universo, um dos atingidos, Paulo Henrique Costa, afastado da presidência do BRB por decisão judicial, já foi aliado de Ciro, mas hoje estão afastados. Antes de chegar ao banco público de Brasília, ele passou pela Caixa, como apadrinhado do senador. Nesse período, no entanto, eles se desentenderam e desde então não se falam e, segundo relatos, nem ao menos se cumprimentam em ocasiões sociais.

Para além desse grupo, foi preso preventivamente no sábado (22) o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), de quem Ciro foi ministro da Casa Civil e de quem é amigo.

Nesse cenário de desgaste no seu entorno, Ciro explicitou movimentos de recuo. Primeiro, disse que informou Bolsonaro que seu nome não está disponível para o cargo de vice na chapa presidencial de 2026. Depois, anunciou que, "diante da falta de bom senso e de estratégia no centro e na direita", vai defender que o foco principal da federação União Progressista (que juntará União Brasil e PP) sejam as eleições estaduais.

Distante da chapa presidencial, na qual tentava emplacar como vice de Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), ele deve buscar a reeleição para o Senado no Piauí.

"Ciro é o mais racional, mais sereno e coerente dos líderes da direita. Ele tem sido o principal responsável por mobilizar um projeto presidencial da centro-direita e da direita para o ano que vem. Por isso também ele é o mais visado. Enfraquecê-lo é uma forma de desorganizar o nosso projeto, então por isso ele também fica em evidência", diz o deputado federal Mauricio Neves (PP-SP), aliado do senador e presidente do diretório paulista do PP.

"Acho que ele cansou do desgaste, por isso escreveu sobre priorizar as eleições estaduais e as bancadas da federação. Ele tenta construir, mas muitos parecem só pensar nos próprios projetos. Então ele submerge e se concentra na federação. No que acho que está correto e tem meu apoio", completa.

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