Farra do INSS: jovens ricaços dirigem entidades que faturaram R$ 700 milhões

Quatro dirigentes com idades entre 28 e 45 anos controlam entidades investigadas pela PF por fraudes nos descontos de aposentados


Luiz Vassallo, Ramiro Brites e Manuel Marçal | Metrópoles

Empresários donos de fintech e construtora e que ostentam casas e carros de luxo em Alphaville, região nobre de Barueri, na Grande São Paulo, controlam associações de aposentados investigadas pela Polícia Federal (PF) por participação na farra dos descontos indevidos do INSS, revelada pelo Metrópoles.

Igor Dias Delecrode (à esquerda na foto em destaque), Felipe Macedo Gomes (ao centro), Anderson Cordeiro (à direita) | Arte/Metrópoles

Igor Dias Delecrode (à esquerda na foto em destaque), de 28 anos, Felipe Macedo Gomes (ao centro), 35 anos, Anderson Cordeiro (à direita), 38 anos, e Américo Monte, o “decano”, com 45 anos, comandam as entidades Amar Brasil Clube de Benefícios, Master Prev, ANDAPP e AASAP. Juntas, as quatro associações faturaram R$ 700 milhões com descontos de mensalidade de aposentados.

Documentos internos dessas entidades e relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) mostram como esse grupo desviava para suas próprias empresas o dinheiro arrecadado por essas associações e como elas criaram um sistema próprio de biometria para fraudar assinaturas dos aposentados que filiavam.

Os mesmos documentos revelam como eles pagaram parentes de dirigentes do INSS por meio de suas empresas. Também mostram gastos em concessionárias de carros esportivos, joalherias de luxo e com embarcações. Além de uma fintech e uma construtora, o grupo também têm empresas de crédito consignado em Alphaville, mesmo bairro em Barueri onde moram em casas de luxo.

Atuação nas associações da Farra do INSS

Igor Delecrode, o mais novo do grupo, presidiu a AASAP e foi dirigente de outras duas associações. Ele é dono de empresas de biometria contratadas pelas associações investigadas na Farra do INSS para validar assinaturas de aposentados.

Felipe Gomes foi presidente da Amar Brasil Clube de Benefícios quando a entidade firmou seu acordo de cooperação técnica com o INSS, em agosto de 2022. No ofício enviado ao INSS pedindo o acordo, ele usou o e-mail de sua fintech, o Rendbank.

Américo Monte, que era correspondente bancário de crédito consignado, colocou seu pai, seu tio e sua filha nas entidades. Como mostrou o Metrópoles, ele também já foi investigado após um funcionário de suas empresas denunciar fraudes em assinaturas.

Após a deflagração da Operação Sem Desconto, que apreendeu carros de luxo do trio, em abril deste ano, eles deixaram parentes à frente das associações.

O Metrópoles apurou que eles mantêm grupos para trocar mensagens sobre as gestões delas e estão se mudando para os Estados Unidos. Deixaram na diretoria das 4 entidades o primo, Marco Aurélio Gomes, e uma tia de Felipe Gomes, chamada Solange Macedo, na presidência de uma delas. A reportagem procurou a defesa de Marco Aurélio e de Solange, sem sucesso.

Gastos com itens de luxo

Dados da Operação Sem Desconto, da PF, já haviam mostrado que empresas ligadas ao grupo drenaram R$ 75 milhões dessas entidades. Relatórios enviados à CPMI do INSS, no Congresso, e documentos obtidos pelo Metrópoles mostram gastos com uma vida de altíssimo padrão.

Gomes, por exemplo, gasta, sozinho, mais de R$ 100 mil por mês em grifes de luxo, como Luis Vitton, Channel e Dior. Somente em um mês, pagou R$ 197 mil em parcelas de compras de duas dessas marcas. Também tem carros de luxo como Mercedes e Lamborghini.

Amigo do pastor André Valadão, da Igreja da Lagoinha, Gomes patrocinou, com sua construtora, o evento de Réveillon promovido pela instituição religiosa que lotou o estádio do Allianz Parque, do Palmeiras, em 2024.

Um vídeo publicado nas redes sociais mostra que, naquele ano, durante um discurso dentro de uma igreja, ele falou sobre seu crescimento como empresário: “O menor negócio na minha vida hoje é 40 vezes maior do que meu primeiro dízimo nesse altar”.

Já Américo Monte, segundo o relatório do Coaf, fez duas transferências de R$ 500 mil somente a uma conhecida revendedora de Alphaville e outra de Minas Gerais. Deu R$ 200 mil a um pastor de igreja em Alphaville, R$ 218 mil a joalherias, e R$ 100 mil a uma marca de tênis italiana.

Pagamento a parente de dirigente do INSS

Um pagamento que joga suspeita para além da ostentação foi uma transferência de R$ 93 mil de Américo Monte para o advogado Eric Fidelis, filho do ex-diretor do INSS André Fidelis, suspeito de receber propina de associações para permitir as fraudes nos descontos de aposentados.

O Metrópoles teve acesso a um contrato entre uma empresa de Gomes, a Cálculo Certo, e uma empresa aberta em Alphaville em nome de Eric Fidelis chamada Protected Soluções — o advogado vive em Recife, Pernambuco.

No documento, consta que a Protected Soluções faria “serviços advocatícios especializados em desenvolvimento e licenciamento de software, sob encomenda, customizáveis, suporte técnico, manutenção e outros serviços em tecnologia de informação”.

O contrato entre os comandantes da entidade e o filho do agente público tem até cláusula “anticorrupção”, por meio da qual as partes “garantem que não vão violar” regulamentos e cometer “suborno, extorsão ou propina”.

Outro contrato foi assinado com uma empresa de Thaissa Hoffmann, mulher do ex-procurador-geral do INSS Virgilio de Oliveira Filho, também suspeito de corrupção na farra dos descontos indevidos.

Neste caso, a prestação de serviços seria de “assessoria técnica empresarial e consultoria técnica preventiva em áreas profissionais, científicas e técnicas realizadas por profissionais autônomos ou constituídos como empresas individuais, cursos de educação profissional” a trabalhadores. Curiosamente, ele também tem cláusula anticorrupção.

O Metrópoles procurou os empresários citados na reportagem por meio de suas defesas e empresas, mas não obteve resposta. O espaço segue aberto.

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