Alessandro Pitombeira Carracena procurou por TH Joias que, segundo a PF, intermediou o contato com criminosos para pedir que veículos fossem devolvidos por facção criminosa. Ele ainda é suspeito de avisar grupo de operações no Complexo do Alemão.
Por Adriana Cruz, Gabriela Moreira e Marco Antônio Martins | g1 Rio e TV Globo
Mensagens obtidas pela investigação contra o grupo do ex-deputado Thiego Raimundo de Oliveira Santos, o TH Joias, revelam que ele intermediou um pedido de ajuda ao tráfico feito pelo ex-secretário estadual de Esportes do Rio de Janeiro Alessandro Pitombeira Carracena.
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Alessandro Pitombeira Carracena, ex-secretário de Esportes do RJ — Foto: Reprodução TV Globo |
A troca de mensagens mostra que Carrecena queria recuperar dois carros roubados na capital do Rio. De acordo com a Polícia Federal, os veículos estariam em comunidades dominadas pela facção Comando Vermelho.
Junto com TH, Carracena foi um dos presos na operação Zargun pela Delegacia de Repressão à Entorpecentes (DRE), da Polícia Federal, e pelo Ministério Público Federal (MPF).
Advogado e ex-secretário estadual de Esportes, Carracena também ocupou cargos comissionados na Secretaria da Casa Civil e na Secretaria de Defesa do Consumidor. Ele é suspeito de receber R$ 90 mil do Comando Vermelho.
Segundo a PF, o pedido de ajuda ao tráfico aconteceu em 29 de janeiro de 2024. Na ocasião, TH Joias enviou mensagem ao traficante Gabriel Dias de Oliveira, o Índio – também preso na operação –, avisando que Carracena pedia ajuda para achar os dois veículos roubados.
Um dos carros estava na comunidade Nova Holanda, no interior do Complexo da Maré; e outro na favela de Manguinhos. Os locais ficam na Zona Norte da cidade e seriam dominados pela facção Comando Vermelho.
A PF interceptou as conversas entre TH e Índio:
- TH Joias: "Carracena pediu esse favor. Esses dois carros. Um na NH (Nova Holanda) e outro Manguinhos".
- Índio: "Ver exato onde tá cada um. Mando devolver agora".
- TH Joias: "Vê se o irmão pode fazer esse pedido. Irmão, tá aí? Estou indo aí para falar com ele".
- Índio: "Sim".
- TH Joias: "Vê aí por favor. Pedido do Carracena. Ele já até marcou amanhã. 7 da manhã com o 01 para ver a parada do irmão".
Para os investigadores, "irmão" se refere ao traficante Luciano Martiniano da Silva, o Pezão, um dos chefes do tráfico de drogas no Complexo do Alemão.
'Nosso irmão, nunca deixou de nos atender'
No mesmo dia 29 de janeiro, Índio diz a TH Joias, segundo a PF, que Pezão quer ter uma conversa com o suplente de deputado na ocasião. TH avisa que está na linha com Carracena conversando sobre a ida dele ao secretário da Polícia Militar para tratar da retirada do Batalhão de Choque da comunidade da Gardênia Azul, na Zona Oeste da cidade.A unidade deveria ser trocada por policiais de um batalhão convencional a quem se referem como "PM normal".
Dois dias depois, em 31 de janeiro de 2024, Índio conta a TH que conversou com Carracena e que “bateu tudo o que ele falou” e o que “os amigos falaram também”. Para a PF isso representa que o Alessandro Carracena vazou informações sobre uma possível operação no Complexo do Alemão.
Em 27 de maio de 2024, Índio e TH voltam a falar de Carracena. Na ocasião, Índio diz que o secretário estadual sempre teria estado “firme” com ambos.
TH logo responde: “nosso irmão” e “nunca deixou de nos atender”.
Para os procuradores do MPF, Alessandro Carracena deixou a advocacia de lado para passar a ser integrante da facção Comando Vermelho:
"No caso específico de Alessandro Pitombeira Carracena, ele é apontado, de forma contundente, como um integrante da organização criminosa Comando Vermelho, tendo transcendido os limites do exercício lícito da advocacia ao se imiscuir em atividades criminosas. Sua participação é materializada pelo fornecimento deliberado de informações sobre operações policiais que seriam deflagradas no Complexo do Alemão e da Maré, conduta que claramente não tem relação com o múnus da advocacia".
O que dizem os envolvidos
Em nota, a defesa do advogado Alessandro Carracena repudiou veementemente a acusação:"Conforme consta no próprio mandado de prisão, a medida extrema foi fundamentada exclusivamente em mensagens trocadas entre terceiros, localizadas no celular do deputado Thiego Raimundo dos Santos Silva, nas quais o nome de Carracena é mencionado, sem qualquer indício concreto de envolvimento em atos ilícitos.
Até o momento, a defesa sequer teve acesso aos autos do processo, o que agrava ainda mais a evidente violação de garantias constitucionais e do devido processo legal.
Ressaltamos que o exercício da advocacia é protegido por lei e não pode, sob nenhuma hipótese, ser criminalizado com base em suposições ou menções indiretas. Esperamos que esse flagrante injustiça seja prontamente corrigida e confiamos na imparcialidade do Poder Judiciário para restabelecer a verdade dos fatos".
A defesa de Índio não foi encontrada para comentar o caso.
A defesa de TH Joias considera "absurdas as acusações". Em nota, os advogados do ex-deputado completaram:
"A defesa do deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos Silva considera absurdas as acusações que vêm sendo reiteradas contra ele. Sobre as fotos expostas, a cenografia das imagens representa o público de sua joalheria que consiste em jogadores, artistas do rap e do funk brasileiro.
Existe um claro movimento de perseguição política a um representante legítimo do povo do Rio de Janeiro. Reafirmamos nosso compromisso em esclarecer todos os pontos e demonstrar a total inocência do deputado".
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