Os critérios pessoais de dois deputados bolsonaristas nas vistorias dos imóveis que irão a leilão do Governo Estadual

Das 4 instituições visitadas, apenas a sede do Grupo Arco-Íris recebeu parecer contrário à venda. Grupo Tortura Nunca Mais e Casa da Mulher Almerinda Gama permanecem no certame. A Escola de Música Villa-Lobos está com sua situação indefinida.


Por Wilson França | Diário do Rio

Ter um perfil dito de esquerda, ou não possuir todos os documentos exigidos ou, até mesmo, se emocionar com a história de vida de uma das funcionárias, pode definir o destino de instituições icônicas que atuam no Terceiro Setor e que estão na lista do Governo Estadual para irem a leilão.

Deputados estaduais Rodrigo Amorim (União Brasil) e Alexandre Knoploch (PL) | Divulgação

Foi o caso das sedes da Casa da Mulher Almerinda Gama, do Grupo Arco-Íris de Cidadania LGBT, da Escola de Música Villa Lobos, todos no Centro da Cidade, e do Grupo Tortura Nunca Mais (GTNM), em Botafogo. Elas foram as primeiras a serem vistoriadas, na semana passada, por membros do Grupo de Trabalho (GT) criado pela Assembleia Legislativa (Alerj) para a definição final dos imóveis que irão à leilão na lista do governador Claudio Castro. A previsão de arrecadação é de R$ 1,5 bilhão, aproximadamente.

O presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), o deputado Rodrigo Amorim (União Brasil), e o presidente do GT, Alexandre Knoploch (PL), em sessão da CCJ quarta-feira passada (17/set), fizeram uma espécie de balanço das duas primeiras vistorias. Eles se posicionaram favoráveis a manter no leilão as sedes do Grupo Tortura Nunca Mais, situada em Botafogo, e da Casa Almerinda Gama, na Rua da Carioca, mesmo constatando, em vistoria realizada no dia 11 deste mês, que estavam em pleno funcionamento.

Amorim foi enfático quanto ao caso do GTNM, criado em 1985 por familiares de mortos e desaparecidos políticos, militantes e ex-presos políticos da Ditadura Militar instituída em 1964. Segundo ele, o grupo usa o Estado para fazer militância e críticas ao próprio Governo e à Polícia Militar do Rio de Janeiro.

“Eu não posso bater palmas para o Governo do Estado sustentar militância alheia. Se o Grupo Tortura Nunca Mais quer ser oposição, fazer crítica e partir para cima do Governo do Estado é absolutamente legítimo, e eu defendo a liberdade do grupo fazê-lo, desde que pague as contas de sua militância”, disse o líder de governo. Amorim afirmou ainda que vai lutar para que o imóvel permaneça na lista dos bens do Governo que vão à leilão.

Knoploch foi na mesma linha e afirmou que pretende manter a sede do GTNM na lista e ainda pedir destaque para a venda do imóvel situado na Rua General Polidoro, 238, em Botafogo. Mesma posição ele tomou quanto ao Casarão da Casa da Mulher Almerinda Gama, que fica na Rua da Carioca, 37. A prefeitura tem projeto de instalar na rua fábricas de cervejas artesanais. Ele comparou o local com o prédio vizinho, no número 47, onde funciona o Grupo Arco-Íris de Cidadania LGBT e que também foi vistoriado no último dia 11 por ele e pelos deputados Carlos Minc (PSB), e Flávio Serafini (PSOL), também membros do GT.

“Mesmo com minha questão ideológica e religiosa contrária à Casa Arco-Íris, constatamos que lá funciona um projeto de fato, com um grupo de travestis e tudo mais. Mas, a situação da Casa Almerinda Gama é totalmente diferente. Há anos, eles estão sem providenciar o CNPJ já solicitado pelo Estado”, justificou.

Em panfleto distribuído em protesto realizado na semana passada na porta da Alerj, representantes da instituição fundada em 2022 pelo Movimento de Mulheres Olga Benário, alegam que nunca foram recebidos pela secretária estadual da Mulher, Heloisa Aguiar, e que a Casa entrou na lista do leilão após a prefeitura do Rio apresentar projeto de construir no local a Rua da Cerveja.

A Casa Almerinda Gama acolhe mulheres vítimas de violência com atendimento jurídico e psicológico, abrigamento temporário, palestras, oficinas, cursos e atividades culturais. A Procuradoria Geral do Estado pediu urgência na ordem de despejo.

Durante a vistoria na Escola de Música Villa-Lobos, situada na Rua Ramalho Ortigão, 9, ao lado da futura Rua da Cerveja, Knoploch ficou sensibilizado com a abordagem que recebeu da bibliotecária Sâmia. Após mostrar o local de leitura, ela contou que foi vítima de atropelamento em frente à instituição e que foi salva por Deus, recebendo a concordância do deputado. “É o médico dos médicos”, disse, para em seguida trocar um abraço com a emocionada servidora.

“Dona Sâmia é uma servidora que não tem preço. Vou apresentar uma moção pra ela e pedir ao governo do Estado que olhe com carinho a Escola Villa-Lobos porque a música é um lugar de transformar vidas”, se posicionou o deputado em suas mídias sociais.

Até o momento, dois imóveis foram retirados da lista: o Complexo Esportivo do Caio Martins, em Niterói, e o terreno onde funcionava o Batalhão da Polícia Militar, no Leblon, avaliado pelo governo do estado em R$ 275 milhões.

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