Câmara de São Bernardo rejeita pedido de impeachment contra prefeito afastado Marcelo Lima; PT e PL também votaram contra

Dos 26 vereadores presentes, 25 participaram da votação e todos se posicionaram contra o pedido. Lima foi alvo da Polícia Federal por denúncias de corrupção e usa tornozeleira eletrônica. Cidadania, de Alex Manente, foi o partido que mais deu votos contra a proposta.


Por Rodrigo Rodrigues | g1 SP — São Paulo

A Câmara Municipal de São Bernardo do Campo rejeitou na quarta-feira (10), por unanimidade, o pedido de impeachment contra o prefeito afastado Marcelo Lima (Podemos). A solicitação foi apresentada por representantes do PSOL, que não tem vereadores eleitos no município.

Posse do prefeito Marcelo Lima (Podemos) na Prefeitura de São Bernardo do Campo, em 1° de janeiro de 2025. — Foto: Divulgação/Câmara Municipal de SBC

Lima foi afastado do cargo por decisão do Tribunal de Justiça de SP após uma operação da Polícia Federal que descobriu um desvio de recursos públicos na cidade. O esquema seria supostamente liderado pelo agora prefeito afastado, que usa atualmente tornozeleira eletrônica.

Dos 26 vereadores presentes, 25 participaram da votação e todos se posicionaram contra o pedido, inclusive três vereadores petistas, dois do PL e cinco do Cidadania, partido do principal adversário de Lima na cidade, o deputado federal Alex Manente.

A presidente em exercício da Casa, Ana Nice (PT), não votou por impedimento previsto no regimento interno.

Após o resultado, manifestantes que acompanhavam a sessão protestaram contra a decisão.

O presidente do diretório municipal do PSOL, Anderson Dalecio, criticou o resultado e destacou a insatisfação com a unanimidade dos votos. Ele reafirmou que o partido continuará buscando a cassação da chapa eleita em 2024 — formada por Marcelo Lima e Jéssica Cormick (Avante) — na Justiça Eleitoral.

“Se o TRE-SP não aprovar a cassação da chapa, nós vamos ao TSE. O PSOL está mostrando que se preocupa com a cidade, não com acordos políticos”, afirmou Dalecio.

A votação da bancada do PT também gerou críticas por parte do PSOL. Os vereadores Ana do Carmo, Ananias Andrade e Getúlio do Amarelinho votaram contra o pedido de impeachment, o que surpreendeu os denunciantes do PSOL, que sempre votou junto com o Partido dos Trabalhadores nas cidades onde os dois partidos tem parlamentares eleitos.

Veja a lista de vereadores que rejeitaram o impeachment de Marcelo Lima:
  • Ana do Carmo (PT)
  • Ananias Andrade (PT)
  • Aurélio (Podemos)
  • Bispo João Batista (Republicanos)
  • Edmar Aragão (Avante)
  • Estevão Camolesi (Cidadania)
  • Geraldo Gomes (PRD)
  • Getúlio do Amarelinho (PT)
  • Gordo da Adega (Podemos)
  • João Viana (Cidadania)
  • Joilson dos Santos (PRTB)
  • Jorge Araújo (União Brasil)
  • Julinho Fuzari (Cidadania)
  • Lucas Ferreira (PL)
  • Luana Eloá (MDB)
  • Léo RR (Podemos)
  • Maurício Cardozo (União Brasil)
  • Netinho Rodrigues (Podemos)
  • Nina Braga (PL)
  • Palhinha (Avante)
  • Pery Cartola (Cidadania)
  • Reginaldo Burguês (Agir)
  • Renan Queiroz (PMB)
  • Shell Gomes (Cidadania)
  • Watanabe (PRTB)

Os partidos que mais deram votos contra o impeachment de Marcelo Lima foram os seguintes:
  • Cidadania: 5 votos contra
  • Podemos: 4 votos contra
  • PT: 3 votos contra
  • União Brasil: 2 votos contra
  • PL: 2 votos contra
  • PRTB: 2 votos contra
  • Avante: 2 votos contra
  • MDB: 1 voto contra
  • Agir: 1 voto contra
  • PRD: 1 voto contra
  • Republicanos: 1 voto contra
  • PMB: 1 voto contra

O g1 procurou o deputado federal Alex Manente, que foi o adversário de Marcelo Lima no 2° turno da eleição municipal da cidade no ano passado e perdeu a disputa para o prefeito agora afastado. Ele é a principal liderança do Cidadania em São Bernardo do Campo.

Na mensagem, Manente disse que esse “não é o momento mais apropriado para ter um impeachment em São Bernardo”, em razão da instabilidade política no município.

“A cidade já vive infelizmente, uma crise profunda, com pouco conhecimento do que foi a operação da PF aqui na cidade que afastou o prefeito. Nós temos uma decisão judicial que afasta o prefeito por 1 ano e imagino que haverá desdobramentos. A própria Polícia Federal, através da sua superintendência, diz que deve ocorrer novos desdobramentos”, declarou.

“Acho que seria precipitado, em menos de 1 mês, tomar a decisão de impeachment, gerando uma insegurança jurídica na cidade, sem ter o conhecimento pleno [de todo o esquema]. O voto nesse momento contra o impeachment não significa que, no futuro, o Cidadania não se posicionará pelo impeachment, se for a melhor solução para a cidade”, completou.

O deputado afirmou, ainda, que o partido dele deve aguardar os desdobramentos da investigação da Polícia Federal “para poder não fazer uma guerra política num momento de instabilidade que a cidade atravessa”.

PT divulga nota

No final da noite desta quarta (10), o diretório municipal do PT em São Bernardo também divulgou uma nota oficial sobre os votos contrários ao pedido de impeachment. No texto, o partido afirma que “não se opõe ao pedido” e reconhece a relevância política da medida apresentada pelo PSOL.

A sigla destacou que o caso envolvendo Marcelo Lima “não pode ser reduzido a uma disputa meramente política” e defende que se trata de um “caso de polícia”, que exige investigação rigorosa e transparente.

"O PT tem defendido, desde o primeiro momento, a apuração pela Polícia Federal, com total transparência junto à população da cidade, que é a maior prejudicada por essa crise. Nossa posição é firme: exigimos que todos os fatos sejam esclarecidos e que a transparência seja garantida. Caso haja comprovação das denúncias, o PT será protagonista em apresentar as medidas cabíveis — sempre com base em fatos concretos, sem oportunismo ou disputas secundárias, mas com prioridade absoluta na busca por justiça e respostas à população", disse a nota.

O PSOL de São Bernardo, por sua vez, afirmou que o pedido foi fundamentado pela acusação de corrupção e o afastamento do cargo pela justiça e que a sigla "continua na luta por uma cidade sem corrupção".

Íntegra da nota do PT em São Bernardo:

"O Partido das Trabalhadoras e dos Trabalhadores de São Bernardo do Campo não se opõe ao pedido de impeachment do prefeito Marcelo Lima. Reconhecemos que a medida apresentada por algumas pessoas ligadas ao PSOL tem relevância em seu caráter e posicionamento político.

A Constituição Federal (art. 5º, XXXIV, alínea “a”) e a Lei Orgânica Municipal asseguram a qualquer cidadã ou cidadão o direito de protocolar denúncias e pedidos de impeachment sempre que houver indícios de irregularidades. Do mesmo modo, a própria Constituição garante o direito pleno de defesa e o princípio da isonomia (art. 5º, caput), assegurando tratamento igualitário a qualquer gestor público, independentemente de partido ou posição política, o que sempre defendemos.

No entanto, destacamos que este caso não pode ser reduzido a uma disputa meramente política e muito menos servir como palco para oportunismos partidários. Desde o início, temos afirmado que não se trata apenas de uma questão política, mas sim de um caso de polícia, que exige investigação séria, rigorosa e transparente.

Por isso, o PT tem defendido, desde o primeiro momento, a apuração pela Polícia Federal, com total transparência junto à população da cidade, que é a maior prejudicada por essa crise.

Nossa posição é firme: exigimos que todos os fatos sejam esclarecidos e que a transparência seja garantida. Caso haja comprovação das denúncias, o PT será protagonista em apresentar as medidas cabíveis — sempre com base em fatos concretos, sem oportunismo ou disputas secundárias, mas com prioridade absoluta na busca por justiça e respostas à população.

Reiteramos, ainda, que nenhuma outra sigla partidária, instituição, cargo, mandato ou CPF tem legitimidade para se pronunciar em nome do PT. Somente a direção do Partido das Trabalhadoras e dos Trabalhadores pode expressar oficialmente a posição da legenda.

Seguiremos firmes na defesa da democracia, da justiça e do direito do povo de São Bernardo do Campo a viver em uma cidade governada com ética, responsabilidade e respeito ao interesse público.

Partido das Trabalhadoras e dos Trabalhadores – SBC"

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