‘Solução para os Correios passa por corte de gastos e aumento de receitas’, diz Esther Dweck (VIDEO)

Ministra da Gestão e Inovação diz que estatal precisa repensar atividades para conseguir reverter prejuízos dos últimos anos; empresa diz que segue comprometida com retomada do equilíbrio econômico-financeiro


Por Mariana Carneiro e Alvaro Gribel | O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA – A solução para os Correios conseguirem reverter os prejuízos crescentes registrados nos últimos três anos passa por corte de gastos e aumentos de receitas, diz a ministra da Gestão e Inovação, Esther Dweck. Em entrevista ao Estadão, Dweck reconheceu que a empresa enfrenta um momento desafiador, por ter perdido o monopólio das entregas de mercadorias no País e, ao mesmo tempo, continuar com a obrigação de garantir a universalização do serviço.

A ministra da Gestão e Inovação, Esther Dweck, defende que os Correios cortem gastos e busquem novas fontes de receitas para conseguir reverter os prejuízos dos últimos anos Foto: FOTO: WILTON JUNIOR/ESTADÃO

“Tem de cortar custos de um lado e buscar receita de outro. Essa é a solução para os Correios, e num setor que está passando por transformação”, afirmou Dweck.

Na última sexta-feira, 4, o presidente da estatal, Fabiano Silva, entregou uma carta de demissão ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Dweck afirmou que a decisão de Silva é de cunho pessoal, e que não cabe ao ministério comentar.

“Se ele entregou a carta, é uma decisão pessoal, não me cabe comentar. O MGI (Ministério de Gestão e Inovação), na função de coordenador de governança das estatais, não atua na indicação das suas diretorias”, disse.

Procurados, os Correios afirmaram por meio de nota que “seguem comprometidos com a retomada do seu equilíbrio econômico-financeiro”. A empresa diz que tem uma meta de reduzir gastos em R$ 1,5 bilhão este ano, e cita a criação da plataforma Mais Correios — um marketplace que entrou em operação no início deste mês, para ampliar receitas.

Desde 2022, os Correios não só vêm apresentando prejuízos, como o resultado negativo vem piorando. Naquele ano, a empresa fechou no vermelho em R$ 767 milhões, com pequena redução para R$ 596 milhões, em 2023. Em 2024, contudo, o rombo chegou a R$ 2,59 bilhões e, apenas no primeiro trimestre de 2025, o número foi negativo em R$ 1,72 bilhão.

Em meados de 2024, a empresa anunciou um Programa de Desligamento Voluntário (PDV), com expectativa de economizar R$ 1 bilhão por ano com a diminuição do quadro de funcionários.

Dweck diz que a crise da empresa é explicada por uma mudança no setor de entregas. Ela entende que os Correios ficaram com o ônus da universalização do serviço, tendo de garantir a entrega de mercadorias em áreas remotas e pouco lucrativas, enquanto a concorrência com outras empresas de transporte de produtos nos grandes centros retirou receitas.

“Os Correios deixaram de ter o monopólio sobre o setor de entregas, mas continuaram com as obrigações de universalização do serviço, de estar em todos os municípios do País”, afirmou. “Há 30 anos, essa conta fechava; hoje, não mais.”

Dweck entende que a pandemia deu um fôlego extra para a companhia, com o aumento das remessas internacionais, mas que a legalização da importação acabou atingindo em cheio essas receitas da estatal.

“Como ela compensava (esse desequilíbrio financeiro)? Com receitas extras. A empresa era muito forte nas entregas internacionais, que bombaram com a pandemia. Ele ganhou muito, até meados de 2024. Tinha 98% do monopólio de entrega de remessa internacional. Mas perdeu isso quando consertamos a taxação das remessas internacionais”, disse.

A ministra diz que os Correios também podem ampliar atuação na área de logística, com o transporte de produtos para os setores de saúde e educação.

“Os Correios estão repensando suas atividades. Lançaram o marketplace, estão aumentando suas funções para ser empresa de logística, na área de saúde, educação, por exemplo. Principalmente saúde, pode ser entregador de remédios, vacinas.”

Estatais fora do Orçamento

Dweck defendeu o projeto que permite que empresas estatais dependentes do Tesouro saiam do Orçamento Federal. Com isso, os seus gastos deixariam de ser computados para o teto do arcabouço fiscal. A proposta foi vista com ressalvas por especialistas, como mostrou o Estadão, pelo risco de abrir espaço para novas despesas no Orçamento.

A ministra entende, por sua vez, que o impacto seria pequeno, e que o objetivo da proposta é permitir que as empresas consigam crescer e deixar de ser dependentes de recursos federais.

“Por que isso se tornou essencial agora e também foi no governo Temer (que apresentou proposta semelhante)? Por causa do teto de gastos. Antes, quando havia só regra de primário, se a empresa aumentasse receitas e gastasse mais, o efeito era zero, uma coisa compensava a outra. Com o teto, mesmo que ela arrecade mais, ela não pode gastar”, explicou.

No governo Temer, no entanto, o projeto previa uma série de condicionantes para as empresas saírem do Orçamento, como a proibição de reajustes salariais acima da inflação e a obrigatoriedade de se fazer PDVs. A proposta do governo atual determina apenas que ela consiga arcar com 40% das suas despesas operacionais com receita própria.

“A empresa precisa bancar no mínimo 40% das suas despesas operacionais com a sua receita atual e ter um plano que demonstre que ela vai sair. O plano vai ter de ser aprovado na direção da empresa, no conselho de administração, no ministério supervisor, e aqui com a gente”, disse Dweck.

Por ora, apenas a Telebras e a Indústria de Material Bélico do Brasil (Imbel) são estatais que se enquadram dentro da regra. Dweck explica que a Imbel perdeu contratos bilionários por não poder fazer gastos para a compra de insumos.

“A Imbel tem potencial para vender para fora do Brasil. Eles chegaram a ter proposta de contrato de R$ 3 bilhões, mas precisavam gastar R$ 400 milhões com insumos. E não tinham dinheiro para isso. A gente olhou para empresas que têm potencial. A Telebras está no limiar”, diz.

‘Não tem parafiscal’

Ela nega que haja aumento dos chamados gastos “parafiscais” e diz que qualquer aporte que precise ser feito nas empresas pelo Tesouro terá de ser contabilizado dentro das regras.

“Não tem parafiscal; elas só vão gastar o que tiverem de receita própria. Elas vão receber o que hoje o governo passa para elas, e se tiver um repasse maior, vai estar no Orçamento. O que elas vão gastar a mais são o que elas arrecadarem. Elas vão ter receita própria para gastar, elas não podem se endividar, porque continuam dependentes”, disse.

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