Indústrias estão localizadas em pequenas cidades e, muitas vezes, são a base da economia local, alerta a Abimci, entidade do setor
Por Márcia De Chiara | O Estado de S.Paulo
Fabricantes de molduras, itens de marcenaria e madeira processada, produtos que têm os Estados Unidos como o principal comprador, estão renovando férias coletivas e planejando demissões para ajustar a produção aos efeitos da queda nas vendas por causa da tarifa de 50% imposta pelo governo de Donald Trump a esses itens.
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Com a sobretaxa, a competitividade dos produtos brasileiros diminui e os clientes dos EUA não fazem pedidos, diz Abimci Foto: Davi Etelvino/Divulgação Abimci |
A maioria desses produtos, muito usados na construção civil, ficaram fora da lista de exceções divulgada pela Casa Branca na quarta-feira, 30. Somente itens relacionados a madeira tropical, que são muito poucos, estão na lista de exceções, observa o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci), Juliano Vieira de Araujo.
No ano passado, os Estados Unidos importaram US$ 1,6 bilhão de madeira industrializada. Nesse grupo existem produtos para finalidades diferentes na construção civil, como compensado laminado, moldura muito usada nas casas americanas, madeira serrada para cerca, pellets, portas e pisos, por exemplo.
Segundo Araujo, a maior parte dos fabricantes afetados pela sobretaxa está nos Estados do Sul, em pequenos municípios. “A cidade trabalha em função dessas empresas; esse é o grande problema”, diz o presidente da Abimci.
Com a sobretaxa, a competitividade dos produtos brasileiros diminui e os clientes dos EUA não fazem pedidos. Isso tem levado indústrias a reduzir a produção.
Demissões
A Sudati, por exemplo, fabricante de compensados e MDF, com produção anual de aproximadamente 600 mil metros quadrados e cerca de 2,8 mil trabalhadores, vai cortar cem empregados nos próximos 60 dias “para adequar a produção às incertezas relacionadas à imposição de significativo aumento de tarifas pelos EUA”, diz companhia em nota.
Os EUA são um dos principais mercados da companhia, que tem cinco fábricas. Destas, quatro no Paraná, nas cidades de Palmas, Ibaiti, Ventania e Telêmaco Borba, e uma em Santa Catarina, no município de Otacílio Costa. As demissões serão em Ventania e Telêmaco Borba.
“O atual cenário econômico tem exigido das indústrias maior eficiência e resiliência a uma demanda mais retraída até a definição de início de vigência ou negociação de tais tarifas”, diz a empresa em nota.
A BrasPine, que produz molduras e itens de marcenaria voltados para construção civil, fez uma nova rodada de férias coletivas para enfrentar as dificuldades na venda de produtos para o mercado americano, depois do anúncio da alíquota de 50%.
Cerca de 60% dos 2,5 mil trabalhadores das unidades de Jaguariaíva e Telêmaco Borba, no Paraná, estão em férias coletivas de forma revezada, desde 22 de julho, explica a empresa em nota.
A companhia, que tem a maior parte da produção destinada aos Estados Unidos, continua operando, mas com capacidade reduzida. Afirma que perdeu competitividade em relação aos concorrentes taxados com tarifas menores, entre 10% e 20%.
Desde 14 de julho, a Millpar, que produz guarnições, molduras e acessórios para residências, itens voltados para exportação, especialmente para os EUA, está com 720 dos 1,1 mil trabalhadores em férias coletivas por 30 dias.
Esses trabalhadores estão alocados nas unidades dos municípios de Guarapuava e Quedas do Iguaçu, ambos no Paraná, onde são produzidas molduras para exportação. Em nota, a companhia informa que “neste momento, a operação da empresa está parada, com exceção das áreas administrativas”.
“Estamos tomando decisões com base em dados concretos, visão de longo prazo e foco na sustentabilidade do negócio”, diz, em nota, o CEO da Millpar, Ettore Giacomet Basile.
Apelo por negociação técnica
A expectativa do presidente da Abimci, que representa os fabricantes, é de que o governo federal negocie com os EUA de forma técnica, econômica, com base em dados concretos, seguindo o rito de outros países que fecharam acordos bilaterais.
Segundo o executivo, a questão política não pode interferir nas negociações. O setor também reivindica que não seja adotada a lei da reciprocidade, que poderia aumentar custos e inviabilizar a produção nacional de muitos itens.
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